O conselho consultivo eficiente é aquele que não massageia o ego, mas entrega visão e coragem.
Se o conselho não está provocando o desconforto necessário, as chances de más decisões e consequências desastrosas, se tornam maiores.
No Brasil, ainda existem resistências por parte das empresas sobre a formação do conselho consultivo, principalmente por parte das pequenas e médias empresas (PMEs). E parte dessa relutância se deve a um receio comum: ouvir aquilo que não se quer.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, hoje falo sobre o valor do conselho consultivo eficiente que, em muitos casos, está em ir na “contramão” das certezas.
O conselho eficiente não está focado em reforçar ideias já aprovadas internamente, mas em confrontar certezas, revelar “pontos cegos” e provocar discussões que, se ignoradas, podem custar muito caro ao negócio.
Conselho consultivo eficiente desafia caminhos previsíveis
Em artigo da EY, conselheiros independentes são destacados como fontes essenciais de visão externa, justamente por sua autonomia e distanciamento da operação. Essa posição privilegiada os capacita a desafiar rotas previsíveis e sugerir alternativas mais ousadas, com foco na longevidade do negócio.
A publicação também enfatiza que o maior valor desses conselheiros está em manter vivo o questionamento estratégico. Eles estimulam discussões incômodas, mas necessárias, ou seja, uma postura indispensável para empresas que desejam se adaptar, crescer e sobreviver a ciclos de disrupção.
Segundo a Associação Brasileira de Conselheiros Consultivos Certificados (ABC3), conselhos consultivos ativos têm papel importante na antecipação de riscos e no fortalecimento da governança.
A experiência prática compartilhada por membros do conselho reforça que a atuação do órgão agrega valor direto à estratégia, à tomada de decisões e à perenidade das empresas.
O que diferencia um conselho eficiente de um conselho simbólico?
Há muitos negócios que mantêm o conselho consultivo apenas para fins protocolares e, desta maneira, desperdiçam uma das ferramentas mais importantes para uma governança corporativa sólida.
Um conselho consultivo eficiente apresenta três pilares fundamentais:
- Independência real: conselheiros que não possuem ligações operacionais ou emocionais com a empresa, conseguem auxiliar a organização de forma independente, de fato;
- Diversidade de repertório: profissionais de formações, setores e experiências distintas conseguem contribuir por meio de diferentes perspectivas sobre cada problema apresentado;
- Liberdade para questionar: é essencial que haja um espaço estruturado para discordância construtiva e visão de longo prazo.
É importante frisar que o conselho consultivo eficiente cria uma tensão saudável na estrutura organizacional, desafiando de forma respeitosa as visões estabelecidas.
Ao ampliar a percepção dos gestores sobre o futuro, o conselho favorece decisões mais robustas, menos pautadas em vícios internos e mais alinhadas a um cenário de transformação constante.
Confrontar certezas é uma estratégia de crescimento
O conselho consultivo não é um órgão “passivo” com a finalidade de agradar os gestores. Em muitos momentos, nosso papel principal está em defender a longevidade empresarial. O contraditório deve ser institucionalizado, não temido.
Os melhores conselhos atuam como sinalizadores de futuro, antecipando riscos regulatórios, tendências de consumo e disrupções tecnológicas.
É de amplo conhecimento no cenário corporativo o dado de que apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração e 15% à terceira. Esses números evidenciam o desafio da longevidade nas empresas familiares, frequentemente associado à ausência de uma governança estruturada.
A implantação do conselho consultivo eficiente é um dos caminhos que favorecem a continuidade, ao proporcionar uma visão estratégica externa e apoiar a sucessão com mais preparo e planejamento.
Conselhos são ativos poderosos capazes de orquestrar as principais decisões das empresas
Segundo o relatório The State of Organizations 2023 da McKinsey & Company, empresas de alta tecnologia que estabeleceram conselhos consultivos ativos apresentaram um aumento de 28% na receita ao longo de três anos.
Além disso, a pesquisa destaca que conselhos consultivos atuantes aumentam a eficácia na resolução de conflitos e na tomada de decisões estratégicas, promovendo alinhamento entre sócios e gestores e fortalecendo a cultura organizacional.
Esses resultados destacam a importância do processo de escuta ativa e do diálogo construtivo no âmbito dos conselhos consultivos para a tomada de decisões que promovem a longevidade e o sucesso empresarial.
Conselhos eficientes são desconfortavelmente valiosos
Um conselho eficiente é um instrumento poderoso quando consegue provocar desconfortos na liderança na mesma medida que aponta caminhos para soluções.
É comum que a figura do conselheiro consultivo seja a do profissional que em alguns momentos “joga um balde de água fria” nas iniciativas das lideranças.
O confronto é fundamental para mudanças positivas. Em empresas familiares, por exemplo, em que a tradição reforçada pelo fundador é tão arraigada em processos e na cultura do negócio, é preciso considerar perspectivas desafiadoras, que em um primeiro momento sejam incômodas.
É exatamente nesse atrito entre a visão interna e análise externa que está o potencial transformador de um bom conselho.
Um feedback que apenas reforça o que você já pensa, soa agradável, mas não induz à mudança da situação atual.
Se a sua empresa tem um conselho em que as vozes presentes não conflituam em nenhum momento, este é um sinal de alerta.
Um conselho consultivo eficaz é aquele que evolui no debate construtivo e que considera as múltiplas perspectivas presentes.
A cultura empresarial precisa estar preparada para a mudança. Uma cultura em que a discordância é encarada como deslealdade ou como “piora no clima organizacional”, impede os conselheiros de oferecer uma orientação estratégica que seja robusta e imparcial.
O bom conselho é aquele que equilibra apoio e provocações. O apoio pode se manifestar no encorajamento em momentos desafiadores e na validação de estratégias bem fundamentadas.
Já as provocações consistem em questionar o status quo, sempre questionando as decisões, passividade em alguns cenários e estimulando continuamente soluções inovadoras.
Em muitos momentos, principalmente diante de mudanças difíceis, é necessária uma boa dose de coragem, que possa promover a estrutura imprescindível para um crescimento sustentável, ajudando o negócio a navegar em cenários complexos do mercado com clareza e foco no propósito.
Em um cenário de negócios cada vez mais volátil e imprevisível, a capacidade de adaptabilidade e agilidade para repensar estratégias é essencial e o conselho consultivo é indispensável nesse processo.
Gosto de pensar no conselho consultivo como um sistema de alerta que se antecipa aos principais riscos do mercado, estimulando a empresa a ajustar sua rota antes que as dificuldades se tornem mais complexas.
Se você busca por crescimento empresarial e longevidade, implementar o conselho consultivo é fundamental, mas lembre-se de que é necessário que a cultura da sua empresa esteja voltada a mudanças e inovação.
Mais do que encorajar decisões, quando essas podem beneficiar a sua empresa, o principal papel do conselho consultivo é questionar as suas certezas. Está preparado para o incômodo do crescimento?
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