Em muitas pequenas e médias empresas (PMEs) familiares, o conselho consultivo ainda não participa da análise da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que segue sendo tratada como mera formalidade.
Essa atitude corriqueira compromete a identificação de riscos e decisões mais estratégicas, já que o que esse demonstrativo contábil esconde pode ser tão importante quanto o que revela.
Será que ele está dizendo o que você quer ouvir ou o que realmente precisa ser corrigido no seu negócio?
A baixa maturidade da controladoria é um dos gargalos críticos das PMEs familiares brasileiras. Quando essa área falha, a DRE se torna uma peça limitada: registra o que já aconteceu, mas não aponta caminhos futuros nem riscos iminentes.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, abordo sobre o conselho consultivo e sua atuação como radar estratégico, não apenas acompanhando os números, mas interpretando o que está por trás deles.
Conselho consultivo e a controladoria como espinha dorsal estratégica
Segundo um estudo publicado na Revista Interdisciplinar de Valoração e Evidência (REIVA), mesmo em PMEs familiares, a controladoria é fundamental para otimizar resultados econômicos, garantir a continuidade da empresa e subsidiar a tomada de decisões estratégica, ou seja, ela é o alicerce da boa gestão.
O problema é que, na prática, muitas empresas ainda operam com controles financeiros frágeis ou desatualizados. Já outro levantamento mostrou que:
- 41% das PMEs não fazem controle rigoroso do fluxo de caixa;
- Muitas empresas sequer sabem, com precisão, quanto dinheiro têm em seu caixa.
Essa falta de clareza gera crise de liquidez ocasionando atrasos com fornecedores, dificuldades para honrar a folha de pagamento e, em muitos casos, compromete a imagem da empresa perante o mercado.
Conselheiros experientes leem além dos números
Quando uma PME familiar conta com um conselho consultivo na gestão financeira, tem acesso a um olhar externo, estratégico e experiente.
Conselheiros com trajetória em finanças e gestão têm a capacidade de identificar padrões preocupantes antes mesmo de os problemas se consolidarem.
Por exemplo:
- Crescimento da receita sem melhoria proporcional no lucro;
- Aumento dos custos fixos em relação à margem líquida;
- Endividamento mal estruturado (muito caro ou desalinhado com o ciclo do negócio);
- Descompasso entre contas a pagar e a receber.
Esses são sinais sutis que, se não forem identificados a tempo, podem virar tempestades financeiras e que, em minha trajetória atendendo PMEs, principalmente empresas familiares, são muito comuns à realidade desses negócios.
Adotar um conselho consultivo atuante ajuda a colocar luz sobre eles, propondo correções de rota com antecedência.
DRE: relatório ou termômetro de saúde?
A DRE bem interpretada pode revelar muito mais do que lucro ou prejuízo. Pode indicar se a precificação está correta, se a estrutura de custos é viável, se o crescimento está sendo sustentável.
Mas para isso, ele precisa ser olhado com profundidade e não apenas lido superficialmente por quem está envolvido na rotina operacional.
O distanciamento do conselho consultivo é justamente o que permite essa análise mais crítica e isenta.
Além disso, o conselho costuma incentivar a implementação de práticas mais maduras de controladoria, como:
- Projeções financeiras mais realistas;
- Análises de viabilidade de investimentos;
- Revisão periódica de KPIs financeiros;
- Cross-check entre DRE, fluxo de caixa e balanço patrimonial.
Esse reforço na governança é decisivo, principalmente em momentos de expansão, captação de recursos ou reestruturação.
O que conselheiros conseguem enxergar na prática
Em estudo publicado no Repositório da UFERSA, o papel da controladoria em tempos de crise foi analisado com foco em pequenos negócios.
O artigo mostra que, em empresas com atuação de conselheiros ou mentores financeiros, foi possível:
- Antecipar decisões de corte de custos antes da perda de margem;
- Reestruturar modelos de precificação;
- Rever contratos com clientes e fornecedores para evitar desequilíbrios de caixa.
É importante ressaltar que os benefícios do conselho consultivo não se limitam às grandes empresas. Para as PMEs familiares brasileiras, a implantação de um conselho consultivo pode ser ainda mais transformadora, ajudando a:
- Estruturar o crescimento: guiar o crescimento de forma planejada, evitando investimentos mal direcionados;
- Disciplinar o uso de recursos: promover uma alocação inteligente de recursos financeiros, focando em iniciativas que gerem valor real;
- Promover boas práticas de governança: introduzir e fortalecer práticas de governança corporativa desde cedo, preparando a empresa para desafios futuros e um crescimento sustentável.
Conselho consultivo – como começar do zero?
Mesmo empresas que ainda não formalizaram um conselho consultivo podem dar passos nessa direção:
- Identifique áreas críticas da gestão financeira
Entenda onde estão os principais gargalos, como baixa previsibilidade de receitas ou despesas descontroladas.
- Traga especialistas pontuais para diagnósticos ou mentorias
Mesmo sem um conselho fixo, é possível contar com a visão de profissionais experientes em momentos-chave.
- Formalize um comitê consultivo com foco financeiro
Reúna um grupo enxuto para acompanhar mensalmente os números e propor soluções.
- Crie uma cultura de prestação de contas e análise crítica
Incentive relatórios mais objetivos, com indicadores claros, e promova reuniões periódicas para discussão de resultados.
O conselho consultivo não é custo: é investimento em visão estratégica, previsão de riscos e sustentabilidade financeira.
Não subestime o que a DRE está tentando dizer
Sua DRE pode estar indicando mais do que aparenta: prejuízos disfarçados por receitas pontuais, margens de lucro corroídas ou despesas que vêm crescendo mês a mês.
É aqui que um conselho consultivo na gestão financeira faz toda a diferença: ele identifica os sinais invisíveis e ajuda a reposicionar a estratégia com base em dados, não em achismos.
Um conselho consultivo na gestão financeira é como um radar: identifica riscos fora do campo de visão imediato, amplia a análise e fortalece a tomada de decisão.
Em tempos em que a velocidade das mudanças é cada vez maior, ouvir apenas o que os relatórios dizem, sem questionar suas entrelinhas, é arriscado demais.
O conselho existe para fazer perguntas difíceis, propor soluções ousadas e garantir que sua empresa não apenas sobreviva, mas cresça com saúde.
Da próxima vez que olhar sua DRE, questione: ela está dizendo o que quero ouvir ou o que preciso corrigir?
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