As principais demandas para os conselhos para os próximos anos, assim como qual é o papel esperado de cada profissional que compõe o board estão entre as principais discussões da atualidade e há algum tempo é motivo de preocupação por parte do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
O mundo vivencia constante transformação tecnológica, novas tendências de consumo e produção, assim como a indústria 4.0 está presente. E são esses, entre tantos fatores, que exigem uma visão de futuro mais profunda.
O futuro é sobre o que acontecerá daqui a um, dois, dez, vinte anos? Também, mas ele também é resultado de ações que são tomadas no presente. O que se espera do conselho de administração para o hoje e amanhã?
Principais demandas de um mundo que muda rapidamente
“Quanto mais a empresa puder demonstrar seu propósito em entregar valor aos seus clientes, seus colaboradores e suas comunidades, melhor será sua capacidade de competir e entregar lucros duradouros, de longo prazo, para os acionistas”, Larry Fink, Chairman e CEO da Função Social da Empresa BlackRock.
O mundo está em contínuo processo de mudança e a cada acontecimento, as demandas dos conselhos se tornam mais complexas.
Conceito ESG em foco
Uma das principais demandas no guarda-chuva da governança corporativa sem dúvidas é o padrão ESG global fortalecido drasticamente por uma crescente preocupação do mercado financeiro com questões em torno da sustentabilidade e não aquela que era praticada por tantas organizações como “greenwashing”. O ESG veio para tornar a sustentabilidade mais do que um item a ser apresentado em relatórios, mas como parte da cultura organizacional.
Além dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), é preciso que as organizações estejam em conformidade com os Dez Princípios do Pacto Global.
Direitos Humanos:
- Respeitar e apoiar os direitos humanos reconhecidos internacionalmente na sua área de influência.
- Assegurar a não participação da empresa em violações dos direitos humanos.
Trabalho
- Apoiar a liberdade de associação e reconhecer o direito à negociação coletiva.
- Eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsório.
- Erradicar todas as formas de trabalho infantil da sua cadeia produtiva;
- Estimular práticas que eliminem qualquer tipo de discriminação no emprego.
Meio Ambiente
- Assumir práticas que adotem uma abordagem preventiva, responsável e proativa para os desafios ambientais.
- Desenvolver iniciativas e práticas para promover e disseminar a responsabilidade socioambiental;
- Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente responsáveis.
Anticorrupção
- Combater a corrupção em todas as suas formas, incluindo a extorsão e o suborno.
Indústria 4.0 já acontecendo
Já a indústria 4.0 ou quarta revolução industrial é um conceito que está ligado às inovações tecnológicas desenvolvidas para a otimização dos processos de produção e indústria, potencializando o lucro das organizações.
Entre as principais tecnologias, estão: Inteligência Artificial (IA); Big Data; Internet das Coisas (IoT) e Machine Learning.
A indústria 4.0 parte do princípio de que, ao conectar máquinas, sistemas e pessoas, criam-se redes inteligentes por toda a cadeia produtiva, sendo assim, é possível prever e evitar falhas processuais, se adaptar com mais facilidade às mudanças não planejadas e adquirir maior autonomia no controle de diversas iniciativas.
Esses são alguns dos temas presentes no contexto atual, que desafiam os conselhos de administração a um posicionamento cada vez mais multidisciplinar em sua atuação, assim como sugere a seguinte reflexão: A organização conduzirá ou será conduzida pelas transformações?
É fundamental para os conselheiros assimilarem a nova realidade para conseguirem melhor direcionar a alta direção das organizações. E diante dessa demanda, seguem as pautas essenciais:
- Ética e Integridade;
- Diversidade e Inclusão;
- Ambiental e Social;
- Inovação e Transformação;
- Transparência e Prestação de Contas;
- Conselhos do Futuro.
Conselhos do Futuro – o que será necessário para impactar positivamente o amanhã?
Há muito tempo que as empresas não se sustentam apenas por meio de um discurso emocionante, sendo assim, o “ativismo” ganha maior notoriedade e pode ser visto como a força de transformação da realidade por meio de ação prática.
Segundo o IBGC, atualmente está sendo vivenciado um processo amplo, resultado de maior conscientização da sociedade, o que requer mudança, evolução, olhar holístico, novas perspectivas, função de diversas variáveis, dentre elas, escolaridade, conectividade e acesso à informação.
Para o órgão, o ativismo como iniciativa da organização, pode ser tratado como “posicionamento com causa”, com ações de impacto que transcendem a empresa, impactando a sociedade e, em muitas vezes, trazendo transformações perenes também em governos, concorrentes e reguladores.
Como saber se o conselho está no caminho certo? Segundo o IBGC, existem fatores a serem considerados, dentre eles:
Olhar honesto para dentro – Porque o conselho deve ser um reflexo daquilo que é pregado (cultura, normas e o propósito/ativismo/posicionamento), suas dinâmicas e deve refletir a diversidade de olhar e trocas transparentes.
Quanto aos aspectos societários, como os conselhos têm trabalhado suas dinâmicas internas para interagir com diversos atores?
- Agentes de Governança;
- Propósito – Ética – Princípios de Governança Corporativa;
- Partes Interessadas – Regulação – Auto Regulação – Melhores Práticas;
- Sociedade – Meio Ambiente.
O gestor, Gino Oyamada, esteve presente em um painel de debates promovido pela FDC (Fundação Dom Cabral), para falar sobre o que é esperado do Conselho do Futuro e pontuou alguns importantes insights sobre o tema:
Olhar de fato para o futuro
Segundo Oyamada, uma das características de grande parte dos conselhos atualmente é olhar para números, performance, balanços, diagnósticos de auditoria, mas muito pouco para tendências futuras, oportunidades e ameaças de outros cenários e para o planejamento estratégico de médio e longo prazo.
“Temas de curto prazo têm sido dominantes nas pautas, o que é compreensível, ainda mais diante das características de controle familiar de grande parte das empresas brasileiras. Mas organizações e conselheiros precisam reservar tempo, análise e reflexão sobre o que está por vir no médio e longo prazo”, alerta o especialista.
Abertura para a juventude e a diversidade
Outro ponto destacado pelo gestor foi a necessidade de conselhos intergeracionais, ou seja, que contem com diferentes perfis profissionais, idade, gênero, etc.
“Conselheiros jovens, que vivam as novas tendências, que invistam em novos negócios e procurem novas formas de navegar no mercado e os questionamentos que essa “mistura” podem trazer à organização são ricos e potenciais fontes em mudanças em processos, produtos e posicionamentos”, acredita.
Trabalho de forma consciente no ambiente no qual está inserido
Oyamada também ressalta que cada vez mais se exigirá do Conselheiro o pleno conhecimento e a total consciência do ambiente em que está inserido, seja ele interno ou externo e que não basta o conhecimento técnico e a experiência a serviço da organização.
“Estar ciente de novas legislações, dos riscos do negócio, da dinâmica competitiva e de seus impactos tanto na organização, nos acionistas como no mercado em que atua, será cada vez mais essencial”, ressalta.
Além disso, o especialista frisou que será cada vez mais importante o domínio sobre a cultura da organização, dos seus valores, do ambiente interno, do seu histórico e até mesmo de suas idiossincrasias para melhor exercício do seu papel como conselheiro independente.
Diversidade é a principal chave para conselhos mais eficientes
O coordenador da Comissão Conselhos do Futuro IBGC, Ricardo Lamenza, que desde 2018, diante da preocupação com diversos fatores (como novas tecnologias, novas tendências de consumo, novas formas de trabalho, entre outros), esteve à frente na criação de um grupo de estudos, transformado em Comissão.
A ideia era fazer uma reflexão estratégica para 2030 e 2040 para uma previsão de como seriam demandados novos modelos de gestão e processos nas empresas e, consequentemente, como deveriam ser as novas lideranças. Foram analisados mais de 230 cenários de como poderiam ser as futuras lideranças.
“Os conselhos e conselheiros têm que ter mais multidisciplinaridade. Temos conselhos com muitos especialistas e precisamos de pessoas com visão mais ampla para que os conselhos sejam mais eficientes”, acredita Lamenza.
Diante das principais demandas da atualidade, incluindo o processo de regulamentação entre as organizações, os conselhos precisam ter em sua expertise a capacidade de olhar além, tratando das questões pontuais obviamente, mas também refletindo sobre os diferentes movimentos que acontecem no presente e que apontam para as tendências futuras.
Maiores exigências no exercício do board? Talvez, mas junto com isso, novas responsabilidades e conhecimentos.
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