O conselho consultivo tem a responsabilidade de transformar herança em futuro, onde o passado inspira e a inovação impulsiona.
Em um cenário em que 90% das empresas brasileiras têm origem familiar, segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), compreender esse papel é essencial para garantir que o negócio avance sem perder sua essência.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, tenho auxiliado e orientado empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos.
Neste artigo, reflito sobre o papel do conselho consultivo nas empresas familiares, elo entre legado e estratégia, que fortalece a governança, prepara sucessores e usa os valores construídos como base para decisões conscientes e sustentáveis.
O conselho consultivo e a alma da empresa familiar
Empresas familiares são movidas por algo que vai além do capital: o propósito. Essas organizações carregam uma história de esforço, valores e identidade construídos ao longo de gerações.
No entanto, é justamente essa profundidade emocional que torna o processo de sucessão e de tomada de decisão mais complexo.
É nesse ponto que o conselho consultivo ganha destaque, atuando como mediador entre o legado e o futuro, conectando a sabedoria da experiência com a energia da inovação.
Segundo o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), o conselheiro consultivo deve ser escolhido não apenas por sua competência técnica, mas por sua capacidade de respeitar os valores e a cultura da família empresária, exercendo uma postura de humildade, coragem e colaboração.
De acordo com trecho tratado no 26º Congresso do IBGC ‘Governança em um mundo disruptivo’ (2025):
“Para entrar em uma empresa familiar, o conselheiro precisa respeitar o legado e as decisões que moldaram a organização. Ele não delibera, mas propõe novos caminhos, gera dinamismo e contribui para a longevidade do negócio”,
Governança corporativa: o elo entre confiança e provocação
Ainda que muitas empresas familiares vejam a governança corporativa como um processo burocrático, ela é, na verdade, uma ferramenta de propulsão estratégica.
Nesse sentido, a governança estabelece as regras do jogo, assegura transparência e equilibra as forças entre sócios, herdeiros e gestores.
Como destacou Lucas Arruda, auditor e líder em inovações sociais na Elevate Great UK, durante o congresso da IBGC mencionado anteriormente:
“Governança não é burocracia, é engrenagem e propulsão. É o diálogo entre legado e reinvenção. Num país onde 90% das empresas têm alma familiar, o conselho consultivo se torna o espaço para pensar e ousar.”
Esse equilíbrio entre confiança e provocação, mencionado por Arruda, é o que permite que a empresa evolua sem perder sua identidade.
O conselho consultivo não existe para contrariar a família, mas para ampliar sua visão, questionando, com respeito, decisões que possam comprometer o crescimento ou sua longevidade.
Sucessão familiar: um processo contínuo, não um evento
A sucessão é um dos maiores desafios da empresa familiar. A ausência de planejamento e de instâncias de governança claras são as principais causas dessa fragilidade.
De acordo com Leila Loria, presidente do conselho da FCC e conselheira de empresas como Assaí e Anaconda:
“A sucessão é um processo delicado e precisa ser tratado com preparo e transparência: Quando o CEO é também um acionista, a avaliação de desempenho se torna ainda mais sensível, mas necessária para o desenvolvimento profissional e para a continuidade da empresa”.
O conselho consultivo, nesse contexto, cumpre um papel essencial: promove o diálogo entre gerações, assegura a meritocracia nas escolhas e prepara os herdeiros para posições de liderança de forma estruturada e responsável.
O conselheiro como guardião do legado e catalisador da inovação
Manter o equilíbrio entre tradição e renovação é talvez o maior desafio da governança familiar. O conselho consultivo é quem ajuda a traduzir o legado em estratégia e a inovação em continuidade.
Ele atua como guardião dos valores sustentando a cultura organizacional, mas também como catalisador de novas ideias, ajudando a empresa a se adaptar às mudanças do mercado e às novas demandas de consumo.
Como tratado no congresso, o conselho não nasce pronto; amadurece com a empresa. Resultado da tensão entre o olhar interno e o independente, surge o equilíbrio que torna o futuro da estratégia mais consistente.
Um exemplo recorrente é quando o conselho orienta a implementação de práticas de sustentabilidade, digitalização ou expansão internacional.
Essas decisões, quando embasadas por conselheiros experientes e alinhadas aos valores da família, fortalecem tanto a imagem da marca quanto sua competitividade.
Conselho consultivo e o preparo das novas gerações
Em famílias empresárias bem estruturadas, o conselho também atua como escola de governança para os sucessores.
Ao participar das reuniões, acompanhar indicadores e debater decisões com especialistas externos, os herdeiros desenvolvem visão estratégica e senso de responsabilidade.
Empresas que estruturam conselhos consultivos tendem a apresentar maior estabilidade e continuidade na gestão ao longo das gerações, reforçando o impacto concreto da governança bem conduzida.
Além disso, o conselho consultivo contribui para definir e revisar o apetite ao risco da organização, ajustando o ritmo de expansão de acordo com o perfil e os objetivos da família empresária.
Como destacou Loria no congresso do IBGC, “discutir o apetite ao risco é essencial, pois fusões e aquisições podem impactar profundamente o legado de uma empresa estável”.
Um instrumento de longevidade e coesão
A presença de um conselho consultivo atuante vai além da gestão, já que promove coesão entre os membros da família, reduz conflitos e fortalece a credibilidade da empresa perante o mercado.
Com o apoio de um grupo de conselheiros independentes, a família empresária passa a enxergar o negócio de forma mais estratégica, sustentando o crescimento de maneira sólida.
A longevidade empresarial não é fruto apenas da boa gestão operacional, mas da capacidade de pensar o negócio de forma institucionalizada, mantendo a alma familiar viva enquanto se profissionaliza a estrutura.
Herança e futuro caminhando lado a lado
A empresa familiar que deseja atravessar gerações precisa compreender que o conselho consultivo é mais do que um órgão de aconselhamento, é um elo vital entre tradição e transformação.
Ele traz a voz da experiência, o olhar externo e o discernimento necessário para alinhar valores e resultados.
Governança corporativa, sucessão familiar e legado empresarial são dimensões interligadas.
Quando tratadas de forma integrada, sob a orientação de um conselho consultivo maduro, formam o tripé que sustenta a longevidade dos negócios familiares.
Em conclusão: o conselho é, portanto, a ponte entre o que já foi construído e o que ainda está por vir, um espaço de diálogo entre gerações, onde o passado inspira e a inovação impulsiona o futuro.
E a sua empresa, já integra esse movimento de transformar legado em estratégia para o amanhã?
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