Conflitos internos representam um dos principais motivos que levam empresas familiares a graves crises que podem culminar em seu fechamento de portas.
Pesquisa realizada pela PwC mostrou que 75% das empresas familiares no Brasil fecham as portas após serem sucedidas pelos herdeiros, o que demonstra falhas no planejamento sucessório, dentre elas, mau gerenciamento de conflitos internos, muitos deles ligados a crises nos relacionamentos entre os sócios e familiares na empresa.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como advisor à frente da MORCONE, ajudando, inclusive pequenas e médias empresas (PMEs) e empresas familiares, abordo sobre os conflitos em empresas familiares, que, quando não gerenciados, levam a desentendimentos que quando escalam em complexidade, colocam em jogo a permanência da empresa no mercado.
Gestão de conflitos na empresa familiar – onde os problemas começam?
Diversas podem ser as origens de desentendimentos em um negócio, e a gestão de conflitos na empresa familiar se torna imprescindível para que a empresa possa atravessar gerações e se manter relevante em longo prazo.
Dentre os conflitos mais comuns em empresas familiares, estão:
Conflitos de interesses
Conflitos surgem primariamente de problemas ligados a uma má comunicação e, no geral, se referem à falta de alinhamento entre os sócios/familiares acerca dos objetivos e propósito da empresa.
É frequente casos de um membro da família desejar determinado cargo, mas este acaba sendo dado ao seu irmão ou a outro familiar. No geral, estes conflitos são como pequenas ações que somadas ao longo dos anos, pode levar a relacionamentos insustentáveis que colocam o futuro da empresa em risco.
Conflitos de gerações
Este é um problema que ganha força principalmente diante da fase do planejamento sucessório quando se discute sobre quem ocupará a cadeira da presidência. É natural que haja resistência quanto às ideias do futuro líder.
Um dos principais dramas enfrentados em empresas familiares é a crença de que o novo sucessor pode vir a descaracterizar a empresa, o que gera resistência quanto à mudança.
Vale ressaltar que uma vez que a cultura organizacional está bem fortalecida e todas as esferas da empresa estão alinhadas sobre isso, o processo de transição tende a ser realizado de maneira mais suave.
Delimitação entre pessoal e profissional
Conseguir separar problemas pessoais de profissionais é um dos maiores desafios entre as empresas familiares. Quando os membros da família não conseguem fazer essa delimitação, é comum que problemas da empresa sejam discutidos num evento em família e que problemas pessoais sejam trazidos para a sala de reuniões do negócio.
Isso leva à fragilidade dos relacionamentos e demanda importantes ações para a gestão de conflitos na empresa familiar, como:
- Adoção de práticas de governança corporativa que, entre outras ações, será responsável por definir os papéis e as responsabilidades de cada membro do negócio;
- Definição de diretriz estratégica do negócio, o que impactará diretamente no alinhamento das lideranças quanto à realidade e o futuro da empresa;
- Fazer o monitoramento dos indicadores utilizados, principalmente sobre aqueles ligados à gestão de pessoas, para que se tenha um norte sobre o sucesso de cada estratégia aplicada.
No geral, os relacionamentos familiares possuem uma dinâmica particular e envolvem:
Relacionamentos complexos – marcados por desentendimentos, favoritismo, excesso de expectativa, comunicação falha marcada por suposições e não pelo diálogo aberto, etc.;
Vícios de comunicação – a comunicação costuma ser “sem filtro” e pela ausência de mecanismos que norteiam as discussões, sendo assim, a informalidade nas discussões e na tomada de decisões podem prejudicar a empresa;
Apego à tradição – Isso pode se tornar um problema no momento da sucessão familiar, quando a geração fundadora teme que as mudanças trazidas pelos membros mais jovens comprometam o legado da empresa;
Ausência de delimitação de papéis – algo corriqueiro em empresas familiares é que os membros da família desempenham várias funções, o que leva à confusão de papéis e até mesmo a novos conflitos, já que muitos podem ter a sensação de “se dedicarem mais do que os outros”.
Governança como o ‘ponto de partida’ para a longevidade em empresas familiares
Já se deparou em algum momento com uma árvore crescendo entrelaçada? Bem, trata-se de uma visão repleta de significados. Conhecido em inglês como “pleaching”, se trata de plantar duas ou mais árvores jovens flexíveis próximas uma da outra e entrelaçar seus troncos conforme o crescimento.
Esse processo gera uma planta incrivelmente forte, mas desde que o processo seja bem-sucedido. Essa é uma bela analogia sobre a longevidade, e podemos compreender que na empresa familiar, as árvores que se entrelaçam são as diferentes gerações que “não se combatem”, mas reconhecem suas potencialidades e decidem caminhar juntas, unindo forças.
Já o processo de “entrelaçar os troncos conforme o crescimento” é papel da governança corporativa que dará à empresa a estrutura para que possa crescer, sem limites.
Se o desejo é a longevidade da empresa familiar, a governança corporativa é ainda mais urgente, afinal, será ela a responsável por mediar os relacionamentos, fazer a boa gestão de conflitos na empresa familiar e a dar ao negócio uma visão clara sobre sua realidade e futuro.
Para a maioria das empresas familiares brasileiras, a ideia de implementar governança com um conselho de administração para auxiliar na tomada de decisões pode causar insegurança inicialmente. Por isso, o conselho consultivo costuma ser o primeiro passo dessas empresas em direção à governança.
O conselho consultivo, composto por especialistas externos, tem o papel de orientar o negócio, ajudando na implantação de mecanismos que tornam a comunicação entre os sócios e os familiares mais clara e eficiente, reduzindo ruídos e prevenindo conflitos futuros. Além disso, ele oferece a estrutura necessária para um planejamento sucessório bem-sucedido.
Conflitos não mediados tendem a se agravar, causando sérios prejuízos. Por isso, é fundamental adotar estratégias para resolver esses desacordos. A governança corporativa é essencial para consolidar empresas familiares no mercado e para garantir sua longevidade ao longo do tempo.
Quando os desacordos fugirem do controle, considere a governança corporativa urgente para a proteção da empresa no mercado, sendo o conselho consultivo primordial para o primeiro contato do negócio com a profissionalização da gestão.
Não ignore os conflitos. Enfrente-os, com ajuda especializada.
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