Uma empresa familiar que prosperou durante décadas sob a liderança do fundador pode enfrentar desafios significativos ao passar para a próxima geração.
Sem um planejamento adequado, conflitos emergem, decisões tornam-se confusas e, em pouco tempo, o legado construído com tanto esforço começa a desmoronar.
Esse cenário é comum em muitas empresas familiares que negligenciam a importância da governança corporativa no processo sucessório.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, abordo sobre a importância das novas gerações na sucessão de empresas familiares.
O desafio da sucessão em empresas familiares
A sucessão em empresas familiares é um momento crítico que determina a continuidade ou o declínio do negócio. Apenas 30% das empresas familiares sobrevivem à transição para a segunda geração e menos de 15% chegam à terceira.
A ausência de um planejamento sucessório estruturado e de práticas de governança corporativa são fatores determinantes para esses números alarmantes.
A governança corporativa estabelece um conjunto de regras e processos que alinham os interesses da família aos objetivos da empresa, promovendo transparência, equidade e responsabilidade nas decisões.
Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a implementação de práticas de governança pode aumentar significativamente a longevidade das empresas familiares ao reduzir conflitos e estruturar a tomada de decisão.
Novas gerações na sucessão de empresas familiares – O papel da preparação e da inovação
A chegada das novas gerações na sucessão de empresas familiares traz desafios e oportunidades únicas.
Jovens herdeiros crescem em um mundo digitalizado, repleto de novas dinâmicas de mercado, e, muitas vezes, trazem uma visão mais moderna e inovadora para os negócios. No entanto, a falta de preparo pode comprometer a continuidade da empresa.
Para garantir que a transição ocorra sem rupturas, é essencial que as novas gerações sejam inseridas no dia a dia da empresa desde cedo. Esse processo pode incluir estágios internos, mentorias com executivos experientes e participação em programas de formação executiva, preparando os futuros líderes para os desafios do mercado.
Além disso, empresas que estimulam a formação acadêmica de seus sucessores em áreas estratégicas colhem bons resultados no longo prazo.
A governança corporativa tem um papel fundamental nesse processo, pois ajuda a equilibrar a influência das novas gerações com a experiência dos gestores atuais.
Muitas empresas familiares bem-sucedidas criam conselhos intergeracionais, onde membros mais jovens da família participam das decisões estratégicas ao lado dos mais experientes. Dessa forma, há um aprendizado contínuo e um alinhamento entre tradição e inovação.
Outro ponto importante é a resistência à mudança por parte das gerações anteriores. Muitos fundadores têm dificuldade em abrir espaço para novas lideranças, o que pode gerar conflitos e retardar a adaptação da empresa a novas demandas do mercado.
Para evitar esse impasse, a sucessão deve ser planejada com antecedência, estabelecendo um cronograma de transição gradual e um processo estruturado de tomada de decisão conjunta.
Empresas que conseguem integrar as novas gerações na sucessão de empresas familiares com uma visão estratégica tendem a prosperar.
Um exemplo é o Grupo Arezzo, que, ao longo de sua trajetória, permitiu que novos sucessores introduzissem inovações no modelo de negócios, mantendo a identidade da marca, mas explorando novas possibilidades de crescimento, como a digitalização e a expansão internacional.
Por exemplo, a marca Schutz, pertencente ao grupo, aumentou a participação do mercado externo no faturamento do grupo de 8,9% em 2015, equivalente a R$ 128 milhões, para 12,55% em 2019, equivalente a R$ 259 milhões, sendo assim, o aumento foi de 3,65 pontos percentuais nesse período.
Importância de estruturas de governança
Sem uma governança estruturada, a sucessão pode se tornar um campo de batalhas internas, levando à fragmentação da gestão e, em muitos casos, à falência.
De acordo com a pesquisa Governança Corporativa: Empresas Familiares Brasileiras da KPMG, publicada em março de 2023, 73% dos respondentes indicaram não haver expectativas de mudança na gestão nos próximos três anos.
Além disso, a pesquisa Retratos de Família – 3ª edição da KPMG, publicada em 2018, destaca que a falta de planejamento sucessório é um dos principais desafios enfrentados pelas empresas familiares brasileiras.
Esses dados ressaltam a importância de um planejamento sucessório formalizado para garantir a continuidade e a estabilidade das empresas familiares.
Empresas que estruturam bem sua governança familiar estabelecem regras claras para ingresso de familiares na gestão, criação de conselhos consultivos e administrativos, e um planejamento sucessório baseado em métricas objetivas.
A adoção de um conselho consultivo permite que a gestão conte com especialistas independentes que tragam uma visão externa e imparcial.
Exemplos notórios e bem-sucedidos de sucessão empresarial
Um exemplo notável é o do Grupo Votorantim, que, ao longo de suas gerações, implementou uma sólida estrutura de governança para garantir a continuidade e o crescimento sustentável.
A empresa estabeleceu conselhos de administração independentes e definiu claramente os papéis dos membros familiares e dos executivos profissionais, assegurando uma transição suave entre as gerações.
Outro caso é o da Gerdau, que, em seu processo sucessório, contou com o apoio de consultorias internacionais como a McKinsey & Company e a Egon Zehnder para avaliar e preparar os sucessores, garantindo que a liderança permanecesse alinhada aos valores e objetivos da empresa.
Práticas essenciais para uma transição sustentável
Para garantir que a sucessão empresarial ocorra de forma estruturada, algumas práticas são essenciais:
- Plano de sucessão estruturado – Empresas devem definir um plano claro para a transição de liderança, incluindo prazos, critérios de seleção e treinamentos;
- Conselho consultivo e administrativo – Que auxiliem na tomada de decisão de forma imparcial e estratégica;
- Critérios transparentes para ingresso de familiares – Estabelecer regras objetivas para que membros da família possam atuar na gestão, evitando indicações baseadas em questões emocionais;
- Capacitação contínua – Formar sucessores com base em experiência prática e formação acadêmica alinhada às necessidades do negócio;
- Profissionalização da Gestão – Ter um modelo de liderança que integre família e profissionais externos, garantindo equilíbrio entre tradição e inovação. Um exemplo bem-sucedido dessa abordagem é o da Magazine Luiza, que trouxe executivos de mercado para cargos estratégicos, mantendo a cultura familiar e ao mesmo tempo profissionalizando a gestão, o que resultou em um crescimento expressivo da empresa.
Sucessão Empresarial: o caminho para a longevidade das empresas familiares
A perpetuação de empresas familiares depende diretamente da implementação de uma governança corporativa eficaz e de um planejamento sucessório bem estruturado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), empresas familiares que adotam boas práticas de governança apresentam maior estabilidade e longevidade, garantindo que a transição entre gerações ocorra de maneira sustentável e alinhada aos objetivos estratégicos do negócio.
Essas práticas não apenas mitigam conflitos e garantem a continuidade do negócio, mas também fortalecem a confiança entre os membros da família e os stakeholders, assegurando que o legado construído seja preservado e ampliado pelas futuras gerações.
Sua empresa já está se preparando para a sucessão? Podemos conversar.
Gostou do conteúdo? Compartilhe. Lembre-se que na MORCONE pensamos em cada área do seu negócio, utilizando metodologias e práticas inteligentes. Acompanhe o trabalho do Advisor, Conselheiro Consultivo e Administrador de Empresas, Carlos Moreira, também no LinkedIn.
Veja também:
Risco do crescimento a qualquer custo – Papel do conselho consultivo na estratégia sustentável
Conselho Consultivo na Governança 4.0: O Pilar estratégico da era digital