Apesar dos debates atuais acerca deste assunto, a cultura organizacional ainda tem sido negligenciada nos conselhos, especialmente nos conselhos consultivos.
Enquanto métricas financeiras, inovação e crescimento dominam as pautas, a essência da empresa – sua identidade, valores e propósito – muitas vezes fica de lado e essa é uma constatação de minha experiência no atendimento, principalmente de empresas familiares.
Mas vale ressaltar que em um mundo onde a diferenciação vai além de produtos e serviços, ignorar a cultura empresarial pode ser um erro estratégico com graves consequências.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, abordo sobre a cultura organizacional como assunto indispensável nas pautas dos conselhos consultivos e para a criação estratégica bem-sucedida.
Impacto da cultura organizacional nas empresas
Tema recorrente nos debates empresariais e, em muitos casos, tratado como “clichê”, a cultura organizacional ainda é um obstáculo para a sustentabilidade nos negócios, com destaque para a modalidade familiar.
Não se trata apenas de um conjunto de valores escritos em um manual corporativo. A cultura organizacional influencia diretamente a retenção de talentos, a tomada de decisões e até mesmo a reputação da marca.
Empresas com culturas fortes têm entre 20% e 30% mais chances de superar seus concorrentes em crescimento e rentabilidade, conforme destaca James Heskett, professor da Harvard Business School.
Além disso, um levantamento da Gallup apontou que organizações com equipes engajadas apresentam 23% mais lucratividade.
Em momentos de transformação, como fusões, expansões ou crises, a cultura empresarial pode ser o fator que determina o sucesso ou o fracasso da empresa. No entanto, mesmo diante desse impacto significativo, muitos conselhos consultivos ainda não incluem a cultura nas discussões estratégicas.
Conselhos consultivos do futuro – tendências e evolução
Já abordei a temática sobre os conselhos do futuro em outro momento (aqui) e suas principais demandas para os conselhos, com destaque para os conselhos consultivos, para os próximos anos.
Os conselhos consultivos estão em constante evolução, e algumas tendências emergem para torná-los mais eficazes, tais como:
Diversidade e inclusão
A inclusão de diferentes perfis nos conselhos traz novas perspectivas e impulsiona a inovação. Estudos da McKinsey mostram que empresas com maior diversidade de gênero em suas equipes executivas têm 21% mais chances de superar seus concorrentes em rentabilidade, enquanto aquelas com maior diversidade étnica e cultural têm 33% mais chances de obter lucros acima da média do mercado.
Foco em ESG (Ambiental, Social e Governança)
A governança corporativa exige que os conselhos avaliem o impacto social e ambiental da empresa. Investidores e consumidores estão cada vez mais atentos às práticas ESG, o que torna esse um fator crítico para a longevidade dos negócios.
Uso da tecnologia para decisões mais ágeis
A digitalização dos conselhos permite uma análise mais precisa dos dados e uma tomada de decisão mais rápida. Ferramentas de IA e Big Data auxiliam na identificação de tendências e riscos, tornando a gestão mais estratégica.
Capacitação contínua dos membros
A exigência por conselheiros mais preparados cresce a cada ano. Organizações que investem em treinamentos para seus conselhos obtêm decisões mais assertivas e alinhadas com a cultura organizacional.
Cultura organizacional precisa de um assento no conselho
Para que a cultura empresarial seja efetivamente incorporada à estratégia corporativa, é essencial que os conselhos consultivos passem a atuar como guardiões desse aspecto. Algumas ações podem ajudar:
- Incluir a cultura nos indicadores de performance: assim como analisam lucro e crescimento, os conselhos devem monitorar métricas culturais, como engajamento dos colaboradores e alinhamento com os valores da empresa;
- Promover diálogos estratégicos sobre cultura: reuniões regulares para discutir clima organizacional, liderança e propósito podem garantir que a cultura seja uma prioridade;
- Trazer especialistas para o conselho: Profissionais que entendem profundamente sobre cultura organizacional podem agregar novas perspectivas às decisões estratégicas.
Cultura nos conselhos – sem ela, estratégias não podem ser sustentáveis e eficientes
Os conselhos consultivos do futuro não podem ignorar a cultura organizacional. Empresas que fazem da cultura um pilar estratégico não apenas constroem ambientes mais saudáveis para seus colaboradores, mas também garantem sua longevidade e competitividade.
A cultura organizacional deve estar presente desde a formulação da estratégia até sua execução. Sem essa base sólida, qualquer decisão tomada pelo conselho consultivo corre o risco de ser inconsistente ou ineficaz.
Estratégias bem estruturadas, mas desalinhadas com os valores e a identidade da empresa, podem gerar resistências internas, dificultando sua implementação e reduzindo as chances de sucesso.
Um conselho que não considera a cultura em suas discussões acaba promovendo mudanças superficiais, sem impacto real no engajamento dos colaboradores e na identidade da empresa.
Além disso, a ausência da cultura nas discussões estratégicas pode gerar um desalinhamento entre os líderes e equipe.
Os colaboradores precisam sentir que as direções estratégicas da empresa refletem seus valores e propósitos, pois esse alinhamento é essencial para manter equipes motivadas e produtivas. Ignorar esse aspecto pode resultar em perda de talentos, redução da produtividade e, consequentemente, prejuízos financeiros.
Os desafios atuais do mundo corporativo exigem que os conselhos consultivos assumam um papel mais ativo na construção e no fortalecimento da cultura empresarial.
Isso não apenas fortalecerá a identidade organizacional, mas também permitirá que a empresa se adapte melhor às transformações do mercado e garanta sua longevidade.
Implementar esse modelo de governança é mais do que uma tendência; é uma necessidade estratégica para empresas que buscam sustentabilidade e crescimento em longo prazo.
E na sua empresa? Como o conselho consultivo tem tratado a cultura organizacional?
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