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Stewardship na era ESG – reflexões sobre o relacionamento das empresas com seus investidores institucionais

Qual o papel dos investidores institucionais na era ESG? Quais são os direcionamentos para os próximos anos? Aliás, qual a compreensão deste termo em meio a tantas transformações ao redor do mundo?

termo stewardship é caracterizado pelo conjunto de deveres fiduciários dos gestores de recursos próprios e/ou de terceiros na administração dos valores mobiliários sob sua gestão, de forma diligente e transparente. Abrange uma série de atitudes e comportamentos capazes de criar um ambiente mais seguro e confiável, propiciando, inclusive, o desenvolvimento de mercado de capitais.

Com mais de 35 anos no mercado corporativo, como consultor desde 2015 à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, como conselheiro e responsável pela implantação da governança corporativa estruturada e padrões ESG em empresas familiares e PMEs ao redor do Brasil, hoje quero abordar o tema Stewardship na era ESG e o valor do relacionamento da empresa com seus investidores institucionais.

Stewardship na era ESG – qual o dever dos investidores diante das empresas e planeta?

O stewardship é um conceito referente à responsabilidade de cuidar de algo ou de alguém de maneira responsável e, quando aplicado à gestão empresarial, está ligado à responsabilidade dos gestores quanto ao gerenciamento de recursos e das operações da empresa de maneira sustentável e responsável.

O stewardship na era ESG se eleva à capacidade de influência sobre aspectos socioambientais, auxiliando organizações a adotar práticas de gestão mais sustentáveis e a se tornarem mais transparentes e engajadas com os stakeholders quanto aos seus impactos na sociedade e no mercado.

Se pararmos para refletir sobre as transformações orientadas pelo conceito ESG, vemos que em todos os âmbitos, a principal premissa é a de que as empresas repensem a atuação no mercado e como têm impactado os três pilares dentro do conceito (Meio Ambiente, Social e Governança) e podemos pensar que a notoriedade do tema nas agendas dos conselhos de administração emerge da preocupação por parte dos investidores quanto ao comprometimento relacionado à sustentabilidade por parte das empresas com as quais estabelecem acordo comercial.

Não bastam apenas as participações em assembleias anuais de acionistas, com seus votos sobre a proposta da administração, torna-se necessário o engajamento individual e coletivo, propondo diálogos com a alta gestão para uma melhor compreensão dos caminhos que estão sendo percorridos.

Principais avanços quanto aos investidores institucionais

Vale ressaltar que os investidores institucionais sempre foram catalisadores de iniciativas em investimentos sustentáveis. Nos anos 1980, os investimentos totalmente responsáveis foram impulsionados pelos anos 1960 e 1970, o que só se intensificou ao longo das décadas com destaque para a pandemia global de Covid-19.

pesquisa global da EY (Global Reporting And Institutional Investor Survey), uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, contou com a participação de mais de 1.400 líderes financeiros seniores nas empresas e 320 investidores.

A pesquisa apontou que 78% dos investidores acreditam que as organizações devem fazer investimentos que abarcam questões ESG relevantes para seus negócios, ainda que isso impacte na redução de lucros no curto prazo.

O interessante no mesmo estudo é que apenas 55% dos líderes financeiros das empresas participantes da avaliação acreditam que seus negócios devem abordar questões ESG, mesmo com o impacto de redução no desempenho financeiro e na lucratividade.

A análise reforçou o papel do ESG como fator decisório de 99% dos investidores do Brasil.

Podemos afirmar que o esperado para os próximos anos é maior preparação por parte dos investidores institucionais para a implantação de estratégias pautadas nas práticas ESG.

Gestão do investimento como uma perspectiva mais refinada proveniente do ESG

Outro conceito vem à tona quando refletimos sob a luz do ESG e além dele: gestão do investimento, como aponta pesquisa realizada pela Accenture. O conceito abrange a governança contínua de todas as empresas, fundos e carteiras que os gestores de ativos supervisionam, e não apenas seus produtos e investimentos ESG. Por trás desta ação, o objetivo é garantir que os valores dos cotistas dos fundos sejam devidamente representados por meio do dever fiduciário.

Acredita-se que a gestão de investimento com base na proatividade e transparência pode se tornar um diferencial competitivo, oferecendo inúmeros benefícios para os gestores, como:

  • Fortalecimento da marca e com isso a atração de mais investidores, incorporando seu propósito e visão de gestão nas histórias da marca;
  • Geração de valor aos acionistas;
  • Geração de valor aos investidores, resultando em experiências mais personalizadas com a marca e auxiliando-os na escolha de fundos que estejam alinhados com os seus valores.

Dados da mesma pesquisa também mostram que 92% dos gestores de ativos concordaram que a sua empresa pretende transformar a sua abordagem de gestão de investimentos nos próximos cinco anos.

A gestão de investimentos está ligada à necessidade de se antecipar à mudança, repensando novas modalidades de gerenciamento quanto aos investimentos e o sucesso da ação está ligado à interação com os conselhos de administração, CEOs e, claro, a uma governança estruturada eficaz.

Atuação dos conselhos no relacionamento junto aos investidores institucionais

Os conselhos têm o importante papel de direcionar e garantir a legitimidade das ações da empresa diante dos stakeholders, com destaque para os investidores institucionais e as comunidades onde a organização está inserida.

Sandra Guerra, Sócia Diretora da consultoria Better Governance, em entrevista à AMEC (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), destaca alguns pontos que podem melhorar o diálogo entre os conselhos das empresas e investidores.

Para ela, enquanto o RI (Relacionamento com Investidores) deve ser o principal porta-voz da empresa com os investidores, em relação aos conselhos, o diálogo deve ser promovido com outros interlocutores dos investidores institucionais:

“Enquanto a interação com a área de RI é feita com os analistas dos fundos, o diálogo com o conselho é feito com profissionais das áreas ESG dos fundos ou de stewardship”, destaca.

A especialista aponta que o conselho de administração deve propor um profissional para ser o canal de diálogo com os investidores nas questões ESG e, na reunião com os investidores, o papel do conselheiro estará mais focado na escuta, acolhendo as principais preocupações dos investidores quanto aos tópicos ligados a riscos ambientais, questões de saúde dos colaboradores, questões acerca de remuneração, etc.

Quando se fala em stewardship e no relacionamento com investidores institucionais, ganha força a reflexão da importância da diversidade nos conselhos, de maneira que sejam compostos por pessoas com diferentes backgrounds profissionais, pessoais e de valores, que possam contribuir com a pluralidade de pontos de vista para os melhores direcionamentos e tomadas de decisão.

A cada tema proposto, é importante para a organização o “confronto” de pensamentos a partir da perspectiva de cada membro com destaque para diferentes conhecimentos acadêmicos, gênero, idade, etc.

Em empresas familiares, por exemplo, que em grande parte dos casos já têm um conselho de administração formado, contar com a diversidade pode ser mais árduo à medida que a resistência por parte do fundador e família costuma ser maior, sendo assim, ter o apoio de um especialista externo para rever o modelo atual é uma das melhores alternativas.

Os investidores esperam transparência e honestidade por parte das organizações por meio das informações repassadas sobre o desempenho financeiro e estratégias de longo prazo, assim como também têm a expectativa de que a alta gestão/CEO apresente uma visão clara quanto ao crescimento da empresa e o que tem feito para alcançar o objetivo.

Sendo assim, como já mencionado, as palavras-chave para um relacionamento mais denso e bem-sucedido entre investidores e conselhos são: diálogo e transparência.

A comunicação é, sem dúvidas, um dos fatores mais importantes para este relacionamento, gerando o aumento da credibilidade e a longevidade do acordo comercial. Sendo assim, destaco alguns pontos importantes, como:

  • Necessidade de realizar a gestão de expectativas dos investidores;
  • Demonstrar consistência quanto à estratégia de comunicação;
  • Demonstrar comprometimento com a transparência na divulgação de informações, com destaque para as financeiras;
  • Mostrar responsabilidade social corporativa.

O bom relacionamento com investidores é essencial para o crescimento e longevidade de qualquer organização, na era ESG o trabalho se intensifica, mas vale a reflexão de que antes mesmo deste padrão de sustentabilidade ganhar força na pandemia, já existia essa necessidade.

Sua organização tem se relacionado bem com os investidores institucionais? O conceito de stewardship considerando a amplitude do ESG é parte de suas estratégias de comunicação?

 

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