Empresas familiares são a maioria no Brasil e segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Sebrae, o país contava em 2017 com aproximadamente oito milhões de empresas abertas, 90% delas dentro da modalidade de empresas familiares.
Já o relatório “Family Business Index 2021” mostrou que, se os 500 maiores negócios familiares do mundo fossem um país, eles seriam a terceira maior economia do mundo, gerando uma receita conjunta de mais de US$ 7 trilhões ao ano.
Aqui no Brasil, uma das grandes referências de empresas familiares que conseguiram prosperar mesmo em meio à crise de Covid-19 é a Magazine Luiza, que conta com uma gestão ágil com forte capacidade de adaptação diante de quaisquer cenários.
Mas, você pode se perguntar: o que leva empresas familiares a se manterem através das gerações? E é sobre isso que falo nesse artigo, com base em minha experiência reestruturando negócios de diferentes portes e segmentos, com destaque para as empresas familiares.
Um dos profissionais que admiro, é o mestre em Administração, Cícero Rocha, idealizador e CEO do Instituto Empresariar, criador do método BFB (Balanced Family Business) e é sobre este método que pretendo tratar!
Compreendendo o método BFB Cícero Rocha
Cícero Rocha trata o método BFB como um agente que transforma a empresa familiar.
Há alguns pontos a serem considerados, como:
- A empresa familiar é um ecossistema (orgânico, vivo);
- É formada por quatro subsistemas que se integram: indivíduos-chave, família, negócios, sócios/patrimônio (e que desejam manter-se vivos);
- Cada um dos quatro subsistemas, mesmo integrados, têm objetivos distintos:
- Indivíduos-chave: ser feliz;
- Família: ter harmonia;
- Empresa: ser efetiva (tomar boas decisões em tempo oportuno);
- Societário: elevar o valor do patrimônio dos sócios.
Esses quatro elementos identificados pelo método foram estabelecidos com referência a mais de 800 projetos executados em empresas familiares pelo Instituto Empresariar e Cícero Rocha.
Vivência do método BFB na prática em empresas comandadas por famílias
Empresas familiares possuem características próprias que refletem sobre a sua gestão e sobre a sua participação no mercado.
O que se leva em conta é a importância das boas decisões tomadas com foco no longo prazo, o que gera nessas empresas uma maior estabilidade e lucratividade, assim como se espera o bom retorno aos acionistas.
As particularidades da empresa familiar também envolvem respostas a diferentes contextos, como, por exemplo, estabelecer objetivos que atendam às necessidades dos seus stakeholders (públicos de interesse), da família, da empresa e também de seus acionistas.
Ferramentas ou “frameworks” são adotados estrategicamente para orientar essas empresas em sua gestão, processos, pessoas, entre outros fatores, para que alcancem a longevidade.
Cícero Rocha desenvolveu o framework conhecido como método BFB (Balanced Family Business), que trata as empresas familiares como um sistema, ou melhor, um organismo vivo.
Tratar um modelo de negócio familiar como organismo vivo leva à reflexão de que são empresas que têm uma maneira própria (orgânica) de existir no mercado, ou seja, existe uma vida particular na estrutura da organização familiar, que precisa ser compreendida e considerada no momento de adotar boas estratégias.
Leva-se em conta o que é conhecido como “pensamento sistêmico”, em que é possível enxergar as relações entre diferentes setores em um negócio, o que faz com que a tomada de decisão esteja focada no que é melhor para a empresa de maneira geral.
Essa é uma maneira de se antecipar às escolhas de diferentes departamentos de um negócio, levando à decisão de qual caminho poderá levar a organização em direção aos seus objetivos.
Quatro subsistemas em ação
Indivíduos-chave
Os indivíduos-chave exercem influência no sistema/organismo vivo como um todo. Esse subsistema também pode ser dividido em: corpo, mente e significado.
Família
Trata-se de um conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos ou não e que conta com particularidades como a sua capacidade de resiliência e ciclo de vida.
Empresa
Já a empresa está relacionada à estratégia, processos, inovação, cultura, pessoas e relações de poder, que estão intimamente ligadas aos indivíduos-chave e família, podendo afetar diretamente a efetividade da organização.
Sócios
Já os sócios, possuem as quotas sobre o negócio e o método BFB aponta os processos societários, estratégias de patrimônios de sócios e o caminho para o desenvolvimento das habilidades e dos conhecimentos desses agentes no negócio.
A exemplificação do método BFB de Rocha é por meio de uma árvore, que representa uma ótima metáfora para um organismo vivo, que depende de quatro fatores para se manter saudável e frutífero.
Particularmente utilizo este método em meus atendimentos a negócios familiares e consigo visualizar na prática os resultados positivos que essa sistematização traz.
O método BFB engloba técnicas, processos, ferramentas e postura que conseguem orientar a todos de forma integrada.
Permite construir importantes planos com base em:
- Quais as melhores estratégias;
- Como fazer as intervenções;
- Quais as melhores ferramentas;
- Quais as pessoas a envolver nos processos;
- Qual o momento e local certo;
- Quais as melhores abordagens a serem utilizadas.
Além disso, essa metodologia ajuda na integração de profissionais que atendem a empresa familiar como: advogados, consultores, terapeutas, etc.
O BFB foi projetado e sistematizado para o acompanhamento de resultados junto aos clientes, assim como se utiliza de método próprio de abordagem de consultoria, desenvolvido pelo Instituto Empresariar, conhecido como HCE.
Construção do legado da empresa familiar
O que qualquer empresa precisa ter para se sustentar no mercado? Cícero Rocha disse em entrevista ao Nosso Meio, que é ter fundamento.
Segundo ele, muitas pessoas têm emitido opinião seguindo os “modismos” do momento e, por isso, é preciso ter um fundamento de estratégia: “Porque quando a empresa faz sua estratégia sozinha, ela corre o risco de não perceber os seus pontos fracos”.
O especialista acredita que lideranças-chave são responsáveis pelo fundamento nas empresas familiares, mas, além disso, esse fundamento também engloba os processos, estrutura de poder, processos de decisão e de governança.
Mas há algo que também precisa ser encarada: a cultura da empresa:
“Vejo negócios se desfazendo, se descaracterizando, importando modelos americanos, alemães e europeus. Uma empresa familiar é diferente de uma não familiar, a cultura é originada pelo local onde a organização está inserida pela família empresária. Além disso, a inovação é outro importante diferencial”.
Talvez a principal reflexão e ponto de partida estratégico que precisam existir entre as empresas familiares seja compreender a razão pela qual existem e, a partir daí, pensar em como manter esse propósito ao longo dos anos.
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