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Empresas familiares que se intitulam ESG precisam ter planejamento sucessório

Sem dúvidas, o planejamento sucessório é um dos principais desafios entre empresas familiares, sobretudo, brasileiras.

E ao passo das crescentes demandas entre organizações ao redor do mundo, relacionadas principalmente às novas tecnologias, uso da inteligência artificial (IA), chat GPT, entre tantas outras, a sustentabilidade só ganha força, afinal, é inovador um modelo de negócio que agride menos o meio ambiente e que exalta a diversidade e inclusão nas equipes.

Com ampla experiência no mercado corporativo, como consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, conselheiro consultivo e especialista na implantação da governança corporativa e ESG em empresas de diferentes nichos e portes, hoje o assunto é planejamento sucessório e o quanto é imprescindível na era ESG.

Complexidades em torno do desenvolvimento do planejamento sucessório

O planejamento sucessório é um instrumento primordial às empresas familiares, pois atua na prevenção de muitos problemas no momento da sucessão.

A elaboração do planejamento não é algo “simples”, afinal, muitas questões devem ser levadas em consideração, para que no momento da sucessão estruturada, tanto a liderança quanto o herdeiro estejam devidamente cientes das metas e de todos os detalhes que envolvem a organização.

Um bom exemplo do quanto o planejamento sucessório precisa ser levado a sério de maneira que acompanhe o senso de propósito organizacional, é o planejamento de sucessão em uma monarquia.

A sucessão da Rainha Elizabeth II (70 anos de reinado) é um bom exemplo da talvez mais bem planejada sucessão do mundo. Há anos, a Operação London Bridge organizava a inevitável transição geracional de uma figura considerada uma das mulheres mais poderosas do planeta. Porém, mesmo com o planejamento, são muitos os desafios da sucessão, como ocorre com sucessões empresariais e familiares.

A sucessão estruturada envolve mais do que ter que lidar com documentações, é fundamental colocar em prática o que foi definido e aí a complexidade do processo se torna maior, pois é necessário engajar as pessoas envolvidas no processo, propor debates e realizar com integridade e transparência a comunicação sobre o futuro da empresa junto aos potenciais herdeiros.

Neste processo, podem surgir conflitos, dificuldades por parte do fundador de aceitar o potencial herdeiro com o perfil mais adequado para liderar a companhia nos próximos anos; discussões entre os irmãos acerca da cadeira da alta liderança; envolvimento de outros familiares na discussão como cônjuges, por exemplo.

Entre os erros mais comuns ao realizar o planejamento sucessório, destacam-se:

  • Ausência de um planejamento antecipado;
  • Não considerar a importância do planejamento sucessório;
  • Deixar para resolver problemas em momentos de emergência;
  • Falta de conhecimento de leis e regulamentações;
  • Não compreender as leis de sucessão;
  • Não buscar por orientação profissional especializada;
  • Desconsiderar os herdeiros e beneficiários;
  • Não envolver herdeiros no processo de planejamento sucessório;
  • Falta de avaliação clara acerca das necessidades dos beneficiários;
  • Não atualização dos documentos;
  • Falta de revisão regular do testamento;
  • Falta de atualização das designações de beneficiários;
  • Falta de estratégias de proteção patrimonial;
  • Desconsiderar a complexidade presente no relacionamento familiar;

Entre outras.

Pensar na sucessão empresarial é um comportamento esperado de empresas que vivenciam o ESG

A sucessão empresarial é fundamental para a longevidade das organizações, mas precisa ser devidamente planejada e estruturada. É um passo importante para as empresas familiares e precisa ser realizado considerando as boas práticas de governança.

Muitos podem ser os problemas na transição entre gerações, desde a falta de clareza ou credibilidade quanto às decisões a dificuldades de comunicação entre os envolvidos.

Com uma governança estruturada é possível pensar no planejamento sucessório, visando o equilíbrio das relações entre os sócios, assim como a evolução e a perenidade da empresa.

Essa preocupação com quem ocupará a cadeira da direção em uma próxima geração está presente no “G” de governança dentro do conceito ESG e é impossível que uma empresa familiar vivencie integralmente a sustentabilidade, sem que se preocupe com o amanhã em sua gestão.

Dentre as principais vantagens do planejamento sucessório, destacam-se:

  • Diminuição dos gastos com burocracia – que se relaciona às taxas de inventário, custos fiscais, honorários de advogados, entre outros;
  • Evita conflitos familiares – quando bem definido, o planejamento sucessório torna a perda do fundador um momento menos desgastante aos envolvidos;
  • Reduz custos com tributos – Por meio do planejamento, de acordo com a estratégia de divisão de bens adotada em vida, é possível conseguir uma redução no imposto estadual ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação) ou até mesmo a isenção completa;
  • Não depende da agilidade jurídica – o planejamento também reduz o tempo de espera e a burocracia envolvida;
  • Previne a inacessibilidade dos bens – geralmente, durante o inventário, alguns bens só podem ser acessados com autorização judicial, mas contar com o planejamento evita este cenário de indisponibilidade.

Sabemos da complexidade envolvida na sucessão empresarial, como aponta o estudo do Banco Mundial, de que apenas 30% das empresas familiares no Brasil (no contexto de 90% de empresas familiares existentes, segundo dados do IBGE), chegam à terceira geração e apenas metade disso, 15%, sobrevivem a ela.

Um dos principais erros, vivenciados por meio da minha experiência em consultoria a empresas familiares, está em deixar os problemas de relacionamento para depois, em muitos casos, o fundador da empresa imagina a sucessão como um futuro distante, além disso, muitos conflitos já se fazem presentes na relação com os herdeiros que em grande parte dos casos, desejam a mesma coisa, a cadeira da alta liderança.

É preciso encarar o problema de frente e pensar naquilo que é necessário, haverá desconforto, demanda energia por parte dos envolvidos, mas pensar no planejamento sucessório e em como implementá-lo por meio da conscientização e engajamento dos envolvidos, é crucial .

Conselhos como importantes aliados para um plano de sucessão estruturada bem-sucedido

Assim como a atuação do conselho, seja de gestão, consultivo ou de administração é imprescindível em organizações como instrumento de governança corporativa para a definição dos próximos passos de um negócio, o planejamento sucessório precisa estar entre as principais prioridades das empresas.

O conselho voltado ao direcionamento da sucessão empresarial deve representar uma estrutura organizada com regras e procedimentos, embasados em critérios definidos e em consenso entre os acionistas e a família empresária.

O planejamento também reúne em sua lista de prioridades a preservação do nome/marca da família, assim como seu propósito e história.

Empresas que já estão no processo de elaboração ou atualização do plano de sucessão levando em conta a participação do conselho como parte essencial no processo, estarão mais preparadas para lidar com as complexidades do presente e futuro.

A sucessão estruturada precisa considerar importantes atributos como transparência, igualdade e racionalidade, sempre tendo em vista os fatores “negócio, família e propriedade”.

Além disso, ter o apoio de um especialista externo é muito importante, afinal, uma visão externa sem os “vícios de comportamento” do ambiente da empresa contribuirá para o alinhamento das expectativas e para o complexo momento de planejar o futuro da empresa.

Ser sustentável no mercado tem a ver com pensar no futuro e, para isso, planejar a sucessão estruturada torna-se uma urgente necessidade.

 

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